4 técnicas para treinar e desenvolver sua capacidade de compor cenas

Quando não podemos investir muito em equipamento, o que nos resta é focar a atenção em questões que dependam mais do nosso próprio esforço que de recursos materiais.

A observação certeira oferece novos ângulos sobre pequenos detalhes
(imagem: Camila Marinello Jacometti)

Você sabe: o que faz de alguém um bom fotógrafo/fotógrafa não é apenas a qualidade ou quantidade de equipamentos que utiliza, mas sua capacidade de observar e perceber as coisas de forma diferente. Mesmo com uma câmera barata (porém de qualidade, pois é possível economizar e adquirir bons eletrônicos por um preço acessível, sabendo comprar bem) é possível inovar, registrando situações cotidianas sob uma ótica diferenciada.

A capacidade de observação é o que dá personalidade às fotos. Se observar mais atentamente alguma exposição fotográfica, ou até mesmo comerciais nas páginas de qualquer revista, perceberá que certas ideias são transmitidas - muitas vezes não é apenas o produto que está sendo mostrado, mas sim um ponto de vista que o faz parecer mais agradável.

Muitas vezes compramos mais a ideia do que o produto propriamente dito. Falo disso porque também é possível fazer o mesmo com nossas fotos: é possível transmitir nossas ideias e impressões através de imagens - e mais do que isso, transformar em imagens as ideias de outras pessoas.

Desenvolver a capacidade de observação demanda tempo e boa vontade, mas apenas com treino você conseguirá obter resultados concretos. As quatro técnicas abaixo são voltadas especialmente para o desenvolvimento da observação. À primeira vista você pode achar que se tratam de técnicas repetitivas e um tanto chatas, mas vai perceber que sua atitude por trás da câmera irá mudar naturalmente, resultando em imagens cada vez melhores.

1. Comece observando um item simples

Escolha um item qualquer e coloque-o sobre uma mesa ou alguma outra superfície plana e neutra. Observe-o atentamente durante cerca de cinco minutos. Mas nada de ficar parado em frente ao objeto pensando: "ok, já vi isso tantas vezes que não é nenhuma novidade... e só se passou um minuto!".

Se você escolher uma laranja, por exemplo, preste atenção ao seu formato: ela é redonda ou irregular? Tem muitas estrias? É grande, pequena ou média - e em comparação com o que? Note a textura, a cor, o brilho... Parece velha ou nova - e o que a faz parecer assim? Parece saborosa?
Itens cotidianos vistos sob nova perspectiva podem revelar diversos detalhes,
enriquecendo as possibilidades de exploração das texturas componentes da cena (foto: pixabay)
Pergunte-se tudo que for possível acerca do objeto, até que não sobre mais nenhuma pergunta a ser feita. Observando por tanto tempo, você conseguiu montar alguma história envolvendo o objeto? Pensou em como poderia utilizá-lo para contar algo por intermédio de imagens?

2. Pense em perspectivas de escape

Agora, vamos Escolha outro item portátil e coloque-o sobre uma janela. Com sua câmera, teste várias perspectivas e distâncias focais durante 15 minutos - para isso, desligue o iluminador autofoco (AF). Diversas câmeras permitem ajustes manuais na distância focal. Numa câmera Sony DSC W-800, dá para selecionar as seguintes opções:
  • Multi AF: distribui o ajuste do foco pela cena inteira, de acordo com 9 pontos de medição
  • AF central: focaliza a parte central da cena, que fica entre [ ]
  • AF spot: baseia o foco num pequeno ponto da cena
  • 0.5, 1.0, 3.0, 7.0 metros: o foco é ajustado de acordo com a distância em metros do objeto a ser fotografado
  • : focaliza o infinito (ideal para utilizar em fotos de paisagens com objetos interessantes posicionados a uma distância muito grande)
Pergunte-se o que os diferentes ângulos podem expressar: um novo ângulo é capaz de transmitir certos estados de espírito e sentimentos? Use a luz de todas as formas possíveis - dê preferência à luz natural.
 

3. Considerar quais elementos incluir (e quais não incluir)

Antes de começar a tirar as fotos, reserve alguns minutos para avaliar o local. Pergunte-se qual parte pode transmitir determinada sensação e por que (a chave para tudo está no questionamento). Faça uma limpeza nos elementos: foque naqueles que você quer enfatizar, comece por poucos e vá ampliando. Se você já tiver em mente que tipo de foto quer registrar, ficará mais fácil: pense no sentimento que você pretende transmitir.
Foto: Roel Alaniz
Na imagem acima, o céu alaranjado do final do dia refletido na poça nos transmite um ar dramático, de solidão. Em geral, a luz difusa do amanhecer e do anoitecer é ótima para criar composições dramáticas.


4. Fotografe mentalmente

Quando começamos a perceber a fotografia de outra forma, é normal que vejamos cenas dignas de serem registradas em todo lugar - mesmo quando nossa câmera não está por perto. Essa forma de pensar contribui imensamente para o desenvolvimento da observação. E mais: você pode começar a prever certas coisas, estando preparado para registrar momentos únicos que duram poucos instantes. Force sua capacidade de observação: identifique os elementos da cena e tente prever o que virá em seguida.

Ao aprimorar sua capacidade de compor cenas, você estará apto a combinar os elementos que o cercam a seu favor, a fim de organizá-los e utilizá-los para reforçar sua narrativa.
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